quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Folhas Menosprezadas

Ervilhá!

Chegou o momento de falar da vida das folhas. As folhas das árvores que todos conhecemos. Ninguém lhes dá valor, ninguém as compreende. A Lata tem a preocupação de dar valor às minorias e por isso vou dar-vos a conhecer a cruel e injusta vida das folhas.

Como sabem, no início da Primavera, as folhas verdinhas (tal como nós, ervilhas) começam a encher os ramos das árvores e a abraçá-las cheias de amor e dedicação. Passam assim a Primavera e o Verão, sem nunca largarem a árvore amada, entregando-lhe todo o amor e tempo que têm. Bonita história de amor, não é? NÃO.

Chega o Outono e sem sabermos bem porquê, a árvore decide atirar as folhas para o chão, excluí-las da sua vida. Como se o amor tivesse morrido ou até mesmo como se nunca tivesse existido. A opinião pessoal da ervilha é que as árvores de folha caduca sofrem, provavelmente, de um distúrbio de personalidade que se manifesta no início da nova estação e é isso que as leva a tomar esta atitude tão rude, insensível e reprovável. 

Agora vejamos o lado das folhas. Passam meses a viver com e para a árvore e com a chegada do Outono são expulsas da sua nova casa, deixadas na rua. São abandonadas, perdem a cor e arrastam-se pelo chão durante semanas e semanas. Algumas entregam-se ao alcoolismo colocando o caule nas tampas das garrafas de bebidas alcoólicas junto aos contentores do lixo. São varridas indelicadamente pelos varredores municipais e pisadas até à morte. Sim, a sociedade mata folhas inocentes de coração partido diariamente. É por isto que devemos respeitá-las e tentar prestar apoio psiquiátrico às árvores para deixarem a poligamia e  não destruírem mais vidas de pobres folhas. 

Não quero alargar-me muito na questão do alcoolismo das folhas, mas notem que é um assunto particularmente perturbador. Se vocês são daquelas pessoas que nos passeios a pé pegam numa folha caída no muro e brincam com ela até ao vosso destino, comecem a reparar nos caules. Se estiverem húmidos ou cheirarem a álcool, adiem um pouco os vossos planos e levem-nas a uma Associação de Folhas Alcoólicas Anónimas, por favor. 

Um assunto ainda mais perturbador, a prostituição. Quando as tampas não chegam para todos os caules, algumas folhas mais desinibidas, recorrem à prostituição. Cuidado com isso, cuidado com as folhas que já não se encontram inteiras, isso corresponde a nudez.

Na ressaca do divórcio das folhas, além dos maus caminhos que algumas tomam, temos aquele tipo de folhas que se atiram contra nós, que caminhamos pela rua, a fim de libertarem a raiva que depois da separação das árvores as invade. Outras, atiram-se para cima dos carros estacionados e colam-se ao vidros, implorando por atenção e que nem com o limpa pára-brisas a funcionar descolam. Essas, que resistem à força do limpa pára-brisas, são as masoquistas, gostam de ser agredidas e mantêm-se coladinhas ao vidro. As que se atiram para poças de água, provavelmente, tentam o suicídio por afogamento. Por último, visto que se tornam folhas sem abrigo, muitas preenchem o formulário para tentarem receber o rendimento mínimo garantido do estado, vejam como a situação é grave. Elas sofrem tanto, como podemos ignorar o que acontece mesmo debaixo do nosso nariz?

Espero que agora olhem de outra forma para as folhas caídas no chão, que as respeitem e cuidem delas, se possível. Caso vejam tampas de bebidas alcoólicas no chão, coloquem-nas fora do alcance destes frágeis seres. Tenho esperança que reflictam seriamente sobre o que vos contei.

Até à próxima publicação, a Ervilha Incompreendida despede-se!

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