sábado, 9 de novembro de 2013

Meias Solteiras

Ervilhá!
(ai, saudades deste olá)

Voltei mesmo. Hoje venho partilhar o grande drama das meias. É um tema que, na minha opinião, o mundo evita, por uma questão de conforto. Mas não escondam mais isto, é normal, temos de nos unir e aceitar a vida. Temas como este têm de ser falados, é por estas pequenas coisas que as ervilhas querem revolucionar o mundo.

Todos perdemos meias. Toda a gente perde uma meia no sítio onde guarda o calçado, no meio dos lençóis, numa mala de viagem e, na maior parte das vezes, no buraco negro que existe dentro de todos os cestos de roupa. Quanto a vocês não sei, mas aqui na ervilhandaria (lavandaria da lata), quando algumas meias perdem o seu par, são postas de lado. Chega! Porque não aceitam meias solteiras? Reparem, não faz sentido as meias terem de ser iguais nos dois pés. Se usarmos uma azul no pé direito e uma amarela no pé esquerdo a órbita da lata não muda, o céu não cai, a galinha Francisca não põe menos ovos.

Pessoalmente, as meias que são dobradas com o par igual, são as primeiras a usar, mas quando acabam, uso uma de cada. Pego em duas meias solteiras e mostro-lhes que é possível amarem outra vez. Falo a sério, modéstia à parte, sou o cúpido das meias. E vocês, se ainda não são, deviam ser. 

Pelo mês de Novembro temos os Casameias, cerimónias que servem para devolver às meias abandonadas a noção de amor, permitindo que se casem. E colocando novamente a modéstia de lado, digo-vos com orgulho que já juntei mais de vinte pares de meias que são hoje extremamente felizes em redor dos meus pés. Sinto mais amor nestes pares de meias que nem todos conseguem aceitar do que nas meias iguais, que se cansam uma da outra e caem na rotina. Estão sempre juntas, vão aos mesmos sítios, torna-se aborrecido. E lembrem-se, se a vossa avó vai dando "um pontinho" nas meias que começam a romper pelo uso, dá nas duas ao mesmo tempo pois são usadas com a mesma frequência. Como é que estas meias se apoiam no pós operatório? Com meias diferentes, com histórias e viagens diferentes, as intervenções cirúrgicas como as costuras não acontecem necessariamente na mesma altura, por isso, a meia-paciente que está na recuperação, tem todo o apoio da outra. Isto é um detalhe muito importante e determinante no sucesso da relação das meias e da sua felicidade.

Acordem. Ninguém quer passear um par de meias infelizes e cansadas. Vamos dar a oportunidade a cada meia que guardamos na gaveta de conhecerem um novo amor, não lhes retiremos a vida por terem perdido o seu primeiro par. Amem de novo, meias!

A ervilha despede-se sem qualquer ideia para uma despedida mais decente. :)

8 comentários:

  1. Adorei, farto-me de rir com esta ervilha! Continua, Mariana ;)

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  2. Espectacular !! já estou à espera da próxima

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  3. Olá Maria Nã;

    Gostei muito, aliás adorei. O texto está imbuído de um sentido de humor de extrema subtileza e, meia descasada, ou solteira, ou divorciada, ou outro estado qualquer, eu "sêsse", ficaria imensamente feliz pela preocupação tão profunda, com a minha eventual solidão de meia solitária, quiçá, abandonada.
    Um grande beijinho e continua a "ervilhar"

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    1. Muito, muito obrigada! Continuarei sim. Um grande beijinho :)

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  4. Como eu gosto de ler os teus textos vizinha. Tens uma boa veia artisitica porque não divulga-la???
    Bjs

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